Gol, Dia e Casa do Pão de Queijo são algumas das empresas mais conhecidas que entraram com pedido de recuperação judicial no primeiro semestre deste ano. O país registrou 1.104 pedidos no de janeiro a junho de 2024, um aumento de 71% em relação ao mesmo período de 2023, segundo dados da Serasa Experian.

Aumento do número já era esperado. O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, afirma que os dados são reflexo dos obstáculos que as empresas têm enfrentado diante de um panorama de incertezas econômicas.

As micro e pequenas empresas lideraram os pedidos de recuperação judicial. Foram 713 companhias deste porte. Em seguida, aparecem 207 pedidos de médias empresas e 94 de grandes. O setor de serviços foi o que liderou os pedidos (422), seguido de comércio (277), indústria (161) e “primário” (154).

O endividamento das empresas está pior. Luís Alberto de Paiva, especialista em reestruturação financeira e diretor da Corporate Consulting, afirma que diversas empresas estão com dificuldade de lidar com o pagamento de dívidas.

Empresas que cresceram mais durante a pandemia precisaram se readequar. Neste processo, as companhias que foram beneficiadas pelo isolamento social investiram pensando que o movimento duraria mais tempo. No entanto, com a volta à normalidade, algumas não conseguiram honrar o pagamento das dívidas que fizeram para crescer ainda mais. É o que diz José Antonio Miguel Neto, sócio fundador do escritório Miguel Neto Advogados.

“O fluxo de caixa não deu certo e as empresas tiveram que pedir recuperação judicial, porque a receita que esperavam não veio e o custo que imaginavam ter com as despesas financeiras aumentou muito.”

Veja empresas que pediram RJ:

Gol
A Gol entrou com pedido de recuperação financeira nos Estados Unidos em 25 de janeiro. Na época, a aérea afirmou que tinha um compromisso de financiamento de US$ 950 milhões e que o processo seria usado para reestruturar “obrigações financeiras de curto prazo e fortalecer sua estrutura de capital para ter sustentabilidade no longo prazo”, segundo a aérea.

A aérea afirmou que decisão não afetaria os clientes. O pedido foi feito nos Estados Unidos e não no Brasil, porque protege o pagamento a fornecedores essenciais para manter a operação. A empresa está operando normalmente no país. A Justiça norte-americana aceitou o pedido da Gol em 27 de janeiro e impediu que credores da aérea obtenham bens ou propriedades dela por causa das dívidas.

Dia
A rede de supermercados Dia entrou com pedido de recuperação judicial em 21 de março. A empresa tinha dívidas que somavam quase R$ 1,1 bilhão e o anúncio foi feito logo após o Dia comunicar o fechamento de 343 supermercados e três centros de distribuição no país. Na época, a empresa disse que teria locais de venda apenas em São Paulo, com 340 unidades. Em 23 de março, a Justiça aceitou o pedido.

Queda nas vendas justifica o pedido. No documento enviado à Justiça, o Dia afirma que houve uma diminuição nas vendas desde 2021, quando a rede diminuiu a presença de cinco para dois estados. O número de funcionários diminuiu 40% na ocasião. Segundo a companhia, apesar do faturamento expressivo, os resultados passaram a ser constantemente negativos desde então.

Aumento dos preços das commodities em 2022 também impactou os negócios. Os alimentos ficaram muito mais caros, principalmente soja, milho e trigo. Entre as razões para as perdas, a empresa menciona a guerra entre Rússia e Ucrânia e a pandemia da covid-19. São justamente esses itens que os consumidores mais buscam ao entrar em suas lojas, afirma a marca.

Coteminas
A empresa têxtil Coteminas pediu recuperação judicial em 9 de maio. A Justiça confirmou o pedido nesta sexta-feira (26), mas desde o início de maio a Coteminas havia antecipado os efeitos da recuperação para se proteger. A empresa pertence ao empresário Josué Gomes da Silva, atual presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

A dívida da empresa é de R$ 1,1 bilhão. A empresa firmou parceria com a Shein em 2023. A movimentação estratégica tornou seus clientes confeccionistas fornecedores da Shein para atendimento do mercado doméstico e da América Latina. Em troca, haveria um financiamento de US$ 20 milhões (o equivalente a R$ 100 milhões, na cotação atual) com vencimento em junho de 26 e pagamento de juros anuais.

A dívida da Coteminas envolve pagamento a mais de 15 bancos. Na lista de credores da companhia até março de 2023, o maior financiador era o Banco do Brasil, com um total acumulado de R$ 410 milhões, que deveriam ser pagos até o ano passado. O balanço cita ainda débitos com Bradesco, Safra, BTG e outras instituições pequenas e médias.

Polishop
A Polishop pediu recuperação judicial em 17 de maio. A rede de varejo tinha uma dívida de R$ 352 milhões e a Justiça acatou ao pedido no dia 20 de maio. Alta de juros e a pandemia foram os principais motivos que levaram a Polishop ao pedido.

Hoje a Polishop tem 500 funcionários. Em 2020, eram 2.500 colaboradores. O número de lojas também caiu: passou de 280 para 49. No pedido à Justiça, a varejista disse que tentou negociar com os credores, sem sucesso.

A Justiça aceitou o pedido de recuperação em 21 de maio. O juiz determinou a suspensão de execuções, arrestos, penhoras e demais medidas contra a Polishop por 180 dias. A empresa é alvo de ações de despejo por não pagamento de aluguel.

Casa do Pão de Queijo
A Casa do Pão de Queijo protocolou um pedido no dia 28 de junho. A rede citava uma dívida de R$ 57,5 milhões e o pedido inclui a fábrica e as 28 lojas próprias, todas localizadas em aeroportos, sem as franquias da rede.

Dívidas trabalhistas somam R$ 244.318 do total, aponta pedido. A maior parcela mencionada na solicitação apresentada à Justiça é referente à classe de credores “quirografário” (sem garantia) e equivalem a R$ 55,89 milhões. O valor de R$ 1,4 milhão restante é referente ao pagamento a micro e pequenas empresas.

Casa do Pão de Queijo pedia a manutenção de fornecimento dos serviços. Diante da situação, a companhia admite ter faturas de energia elétrica em atraso e pede para que o juiz responsável pela ação determine que o serviço não seja interrompido. “O corte dos serviços de energia elétrica, em razão do inadimplemento de dívida sujeita à Recuperação Judicial acarretará a paralisação.

A Justiça aceitou o pedido em 16 de julho. As dívidas da empresa ficam suspensas por 180 dias e a empresa vai precisar apresentar suas contas mensalmente e enviar documentos para a administradora judicial.

Com informações de UOL