Pela primeira vez na história, a obesidade e o excesso de peso ultrapassaram a desnutrição como a principal forma de má nutrição infantil no mundo. O alerta é do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que estima que uma em cada cinco crianças ou adolescentes esteja acima do peso: são 391 milhões de jovens, dos quais 188 milhões já convivem com a obesidade.
No Rio Grande do Norte, o cenário segue a mesma tendência preocupante. Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), de julho de 2025, revelam que 17,9% das crianças potiguares entre 5 e 10 anos apresentam excesso de peso, enquanto apenas 2,58% estão abaixo do peso ideal. A situação é ainda mais grave entre adolescentes: quase 40% (39,97%) estão com sobrepeso ou obesidade, contra apenas 3,36% em estado de desnutrição.
De acordo com a nutricionista Raphaella Martins, vinculada à Hapvida, o avanço da obesidade infantil está fortemente ligado às mudanças nos hábitos alimentares das famílias brasileiras. “Os alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras saturadas, açúcares e aditivos químicos, têm substituído refeições equilibradas à base de frutas, legumes e proteínas saudáveis. Essa mudança ocorre justamente em uma fase crucial do desenvolvimento físico, emocional e cognitivo das crianças”, alerta.
O relatório do Unicef também chama atenção para fatores estruturais, que vão além das escolhas individuais. “Hoje, as crianças estão expostas a um ambiente alimentar que favorece o consumo de produtos nocivos. Isso acontece inclusive dentro das escolas, onde o comércio de fast food e snacks industrializados é comum. Além disso, campanhas de marketing digital influenciam diretamente o comportamento alimentar infantil”, complementa a especialista.
No Brasil, a inversão entre os índices de obesidade e desnutrição já vinha sendo observada desde os anos 2000. Na época, 5% das crianças e adolescentes tinham obesidade, enquanto 4% estavam desnutridos. Em 2022, a obesidade triplicou, chegando a 15%, enquanto a desnutrição caiu para 3%. O sobrepeso também deu um salto expressivo, passando de 18% para 36% entre os jovens.
Para Raphaella, o enfrentamento da obesidade infantil exige uma abordagem integrada, envolvendo família, escola e sistema de saúde. “A prevenção começa em casa, com escolhas alimentares mais conscientes. Além disso, o acompanhamento nutricional é fundamental para orientar pais e responsáveis sobre as necessidades específicas em cada fase da infância”, conclui.

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