Os erros mais comuns cometidos pelos pais na introdução alimentar de prematuros costumam estar ligados à ansiedade, falta de informação sobre idade corrigida e busca por soluções rápidas
Nutricionista da MEJC-UFRN/Ebserh fala sobre cuidados na introdução alimentar de bebês prematuros

A introdução alimentar em bebês prematuros é um momento delicado e fundamental para o desenvolvimento saudável dessas crianças. Diferentemente dos recém-nascidos a termo, os prematuros possuem necessidades nutricionais específicas e maior vulnerabilidade a complicações digestivas e imunológicas. A nutricionista da Maternidade Escola Januário Cicco (MEJC-UFRN), da Rede Ebserh, Márcia Marília Gomes Dantas Lopes, fala sobre idade corrigida e como ela difere da idade cronológica em bebês prematuros para introdução alimentar.

A alimentação complementar em bebês prematuros deve ser iniciada aos 6 meses de idade corrigida, ou seja, considerando a idade que o bebê teria se tivesse nascido na data prevista do parto.  Márcia Marília explica que a idade corrigida é a idade ajustada de um bebê prematuro, calculada a partir da data em que ele deveria ter nascido (ou seja, a data provável do parto ou 40 semanas de gestação). “Ela serve para avaliar com mais precisão o desenvolvimento e o crescimento do bebê, considerando que ele nasceu antes do tempo previsto, enquanto a idade cronológica é a idade de nascimento real do bebê”, diz a profissional.

Márcia Marília comenta que a idade corrigida deve ser considerada na introdução alimentar de prematuros por refletir melhor a maturidade neurológica, motora e fisiológica do bebê. “Isso evita iniciar a alimentação antes que ele esteja pronto, o que poderia trazer riscos como engasgos”, afirma. A nutricionista da MEJC-UFRN/Ebserh explica, ainda, que a introdução deve ocorrer com avaliação individual, considerando contexto clínico e sinais de prontidão.

A profissional alerta que iniciar a alimentação complementar com base apenas na idade cronológica pode envolver alguns riscos, a exemplo de engasgos e aspiração pulmonar, aversão, recusa alimentar e seletividade no futuro, desconforto intestinal e comprometimento do crescimento.

De acordo com Márcia Marília, um bebê prematuro demonstra sinais quando está apto para iniciar a alimentação complementar, a exemplo do controle adequado da cabeça e do pescoço, consegue sentar-se (mesmo que com apoio), não apresenta mais o reflexo de empurrar a língua para fora e mostra curiosidade ou vontade de experimentar alimentos.

Evolução do paladar e aceitação dos alimentos 

Márcia Marília ressalta que existe diferença na evolução do paladar ou na aceitação dos alimentos entre prematuros e bebês nascidos a termo. “Prematuros podem ter mais dificuldades na aceitação alimentar do que bebês a termo porque têm menos exposição intrauterina a sabores”, explica. Os bebês prematuros passam por mais procedimentos pela via oral (como sonda orogástrica), iniciam a alimentação de forma diferente (via sonda, com fórmula ou via parenteral), além de apresentarem imaturidade na sucção e na deglutição, com isso, podem aumentar o risco de seletividade e resistência a novos sabores e texturas. “No entanto, com estímulo adequado, os prematuros conseguem evoluir e alcançar aceitação alimentar semelhante à dos bebês a termo”, aponta a nutricionista da MEJC-UFRN/Ebserh.

Os alimentos recomendados no início da introdução alimentar de um prematuro são semelhantes aos indicados para bebês nascidos a termo, “mas devem ser oferecidos com mais atenção à consistência e densidade nutricional, a depender de condições clínicas específicas”, pontua Márcia.

Segundo a nutricionista, a introdução alimentar tem impacto direto no ganho de peso e no crescimento dos prematuros, pois alguns já começam a vida com maior risco de déficits nutricionais. “Deve-se atentar a preparações muito diluídas ou introdução alimentar tardia, que podem levar a baixo ganho ponderal e estatural”, alerta a profissional.

Erros mais comuns

De acordo com Márcia Marília, os erros mais comuns cometidos pelos pais na introdução alimentar de prematuros costumam estar ligados à ansiedade dos pais, falta de informação sobre idade corrigida e busca por soluções rápidas. “Os erros mais comuns estão em antecipar ou atrasar etapas, diluir o valor nutricional das refeições e não respeitar o desenvolvimento do bebê, ignorar sinais de dificuldade oral (muitos pais não percebem problemas de sucção, mastigação ou deglutição, que exigiriam avaliação do fonoaudiólogo), oferta de biscoitos, sucos e ‘massas para engrossar’ (que atrapalham o crescimento saudável e aumentam o risco de obesidade)”, descreve a profissional.

Sobre a Ebserh 

A MEJC-UFRN faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.