O luto é um processo natural e esperado diante do rompimento de um vínculo significativo. Aqueles que perdem um ente querido podem passar por diversas reações durante o processo de adaptação a uma nova realidade. Entre as reações esperadas, podem ser encontradas as emocionais (tristeza, culpa, raiva e saudade), cognitivas (descrença, confusão, preocupação) comportamentais (distúrbios no sono, alterações no apetite, isolamento social, agitação, irritabilidade, evitação de lembranças, choro, entre outros), além de sintomas físicos.
Muitas pessoas que passam por esse momento extremamente delicado podem relatar o aparecimento de sintomas físicos, como nó na garganta, dores no corpo, dores de cabeça, alterações gastrointestinais, dor no peito, como se algo estivesse pressionando o coração. Foi o que aconteceu com a administradora Marcela Siqueira, 39 anos, que perdeu sua avó há dois meses.
Ela relata que vivenciou muita angústia, dificuldade para dormir e, ao mesmo tempo, sentia a necessidade de dormir mais para tentar esquecer a dor. A administradora também sofreu com perda de apetite, falta de energia para realizar atividades diárias, fraqueza e indisposição. Marcela ainda apresentou sintomas como tontura e sensação de febre por dois dias, além de chorar diariamente.
“Entendi que os sintomas eram normais pelo processo de luto, por isso não procurei assistência médica, pois sabia que passariam com o tempo”, conta. Os sintomas mais intensos de Marcela duraram cerca de uma semana, enquanto os episódios de choro persistiram diariamente, geralmente à noite, por cerca de 15 dias. A indisposição e a falta de energia também se prolongaram por aproximadamente duas semanas.
De acordo com Simône Lira, psicóloga especialista em luto no cemitério e crematório Morada da Paz, alguns estudos confirmam que o agravamento da dor associada ao luto pode causar alterações no coração, como a cardiomiopatia de Takotsubo, conhecida como “Síndrome do Coração Partido” ou cardiomiopatia induzida por estresse. Esta é uma doença no músculo cardíaco, caracterizada por uma disfunção súbita, mas transitória, no ventrículo esquerdo.
“Embora a causa específica dessa síndrome ainda não tenha sido determinada, sabe-se que, em cerca de 80% dos casos, ela pode ser desencadeada por eventos estressantes, como a morte de uma pessoa querida, o rompimento de um relacionamento afetivo, a perda de um emprego, entre outros. Esses eventos promovem a liberação de hormônios de estresse, especialmente a adrenalina, na corrente sanguínea”, explica Simône.
É importante estar atento ao surgimento e a permanência de sintomas físicos associados ao luto, procurando buscar ajuda médica especializada, quando necessário. “Quanto aos sintomas emocionais, se forem intensos e prolongados a ponto de impedir a continuidade das atividades de rotina e causando forte impacto nas relações ou na vida diária, é fundamental buscar ajuda profissional para que seja feita uma avaliação psicológica e acompanhamento, evitando que evoluam para um processo que prejudique a qualidade de vida da pessoa”, recomenda a psicóloga.
O acompanhamento por um profissional especializado em luto pode ajudar a encontrar recursos e identificar redes de apoio que contribuam para a vivência desse processo, assim como identificar situações que possam estar agravando o cenário. “O luto envolve uma oscilação entre momentos em que a pessoa se volta para o pesar e outros em que a pessoa tenta retornar à rotina diante da nova realidade apresentada”, conclui Simône Lira.
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