Em muitas regiões, feiras de artesanato e eventos turísticos são fundamentais para escoar a produção e divulgar o trabalho dos artesãos

Quando pensamos em termos históricos, na construção da imaterialidade e da materialidade de um povo, o artesanato mostra-se uma expressão cultural de valor único, profundamente ligada à identidade. No Brasil, essa técnica foi herdada majoritariamente dos indígenas e, em algumas instâncias, dos europeus, especialmente os portugueses.

No território brasileiro, o artesanato reflete a diversidade étnica e cultural que constitui as bases da nação. Desde o trabalho em cerâmica dos povos originários até a tapeçaria, cestaria e bordados, o artesanato encontra-se presente em praticamente todas as regiões.

Carregado, portanto, de uma riqueza estética e de significados culturais que impactam diretamente a economia, especialmente nos locais em que as comunidades que preservam essas práticas encontram-se.

Com uma movimentação anual próxima a R$ 100 bilhões enquanto totalidade, o equivalente a cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, o artesanato brasileiro demonstra ser parte importantíssima na economia. A atividade reúne mais de 8,5 milhões de artesãos, distribuídos em todas as regiões do país, fortalecendo-se como um importante setor econômico.

De fato, as raízes históricas do artesanato brasileiro remontam aos tempos pré-coloniais, momento da existência no qual as populações indígenas utilizam matérias-primas como argila, fibras e palha para confeccionar objetos utilitários e decorativos.

A partir da chegada dos portugueses, novas técnicas foram introduzidas no cotidiano, como a tecelagem e a própria marcenaria, além da forte influência africana, que acabou trazendo a arte em couro, máscaras e objetos ritualísticos que ampliaram ainda mais a variedade de artesanatos. A diversidade dessa prática no Brasil é refletida em cada região, intimamente atrelada a identidade cultural e as manifestações religiosas.

No Nordeste, por exemplo, destacam-se o bordado, as rendas e a cerâmica, especialmente em estados como Pernambuco e Ceará, que produzem peças reconhecidas nacionalmente, como o renascença e o filé. Já no Centro-Oeste os trabalhos com cerâmica e fibras naturais representam a cultura indígena local, enquanto no Sul a tradição europeia se faz presente em técnicas de marcenaria e artesanato em madeira.

Hoje, no mundo contemporâneo, o artesanato ganha novas formas e funções com o crescimento do design artesanal, que incorpora elementos contemporâneos ao trabalho manual.

Itens como móveis, luminárias e até mesmo roupas, feitos com técnicas artesanais, são valorizados pela sua singularidade e pela conexão emocional que estabelecem com o consumidor. É importante enfatizar que existe uma tendência marcante: o artesanato sustentável, que utiliza materiais reciclados e técnicas que minimizem o impacto ambiental.

Um excelente exemplo são as rendeiras que se localizam no extremo sul, em Pelotas, que confeccionam bolsas a partir de redes e apetrechos oriundos da pesca artesanal que não são mais utilizados por pescadores e pescadoras. Nesse contexto, um material que vem ganhando destaque, também, é o fio de malha.

Feito a partir de retalhos de tecido, ele é versátil, resistente e se tornou um dos queridinhos na criação de cestos, bolsas, tapetes e objetos decorativos. Este material, além de reduzir o desperdício têxtil, também proporciona aos artesãos uma matéria-prima acessível e renovável, alinhando-se à demanda por produtos sustentáveis e únicos.

No fim, o artesanato enquanto trabalho e símbolo cultural constitui parte importante da vida e, por consequência, da economia, especialmente em regiões com menor acesso a empregos formais. A procura crescente por esses produtos ressalta a importância de valorizar e preservar essa arte, que representa tanto a identidade cultural quanto o futuro de uma economia mais consciente.