A confirmação do economista Marcio Pochmann para presidir o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demanda expressa do Planalto, sofreu resistências do Ministério do Planejamento e duras críticas de economistas mais ortodoxos.
Marcio Pochmann, próximo ao PT e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dá aulas na Unicamp, escola de linha econômica majoritariamente heterodoxa. Também foi presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) entre o fim do segundo mandato de Lula e o começo do primeiro de Dilma Rousseff. Pochmann sofreu amplas críticas em sua gestão no Ipea, classificada por muitos como intervencionista e ideológica.
Pochmann se mostrou crítico ao Pix, meio de pagamento instantâneo criado pelo Banco Central – e que, apenas seis meses após ser lançado, ultrapassou transações de TED, DOC e boleto no País.
No dia 13 de outubro de 2020, o economista publicou no Twitter que, com o Pix, o Banco Central dava “mais um passo na via neocolonial”. “Na sequência vem a abertura financeira escancarada com o real digital e a sua conversibilidade ao dólar. Condição perfeita ao protetorado dos EUA”, escreveu.
Durante o seu mandato à frente do Ipea, Pochmann defendeu uma reforma tributária que acabasse com o Pis e a Cofins, dois tributos federais que incidem sobre o consumo, e que criasse um novo sistema do Imposto de Renda, com 12 faixas de cobrança, em vez das duas existentes à época. O modelo previa a cobrança de uma alíquota de 60% para quem tinha renda superior a R$ 50 mil mensais. Além disso, haveria a cobrança de 1% de imposto sobre grandes fortunas.
Em entrevista à Reuters em setembro de 2021, Pochmann afirmou que o Brasil deveria apostar na geração de riqueza em frentes às quais dedica pouca ou nenhuma atenção, começando pela exploração do “espaço sideral”.
“Brasil não tem GPS. Como podemos dizer que Brasil é país autônomo quando todo seu sistema de informação e comunicação vinculado ao espaço sideral, portanto à internet, depende de empresas que não são brasileiras?”, afirmou.
Na mesma entrevista, Pochmann criticou a concentração do debate econômico à época em temas como a manutenção ou não do teto de gastos e a alta da inflação. “Não quero menosprezar o problema da inflação, sobretudo num País como o nosso, mas estabilizemos a inflação e daí? O que acontecerá? Espontaneamente virão os investimentos? Da onde? Em que setores?”, disse.
No mês passado, Pochmann usou as redes sociais para criticar as reformas trabalhista (realizada no governo do ex-presidente Michel Temer) e previdenciária (aprovada durante a gestão de Jair Bolsonaro). Segundo ele, as mudanças nas leis e o “fiscalismo” colapsaram o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Em 2018, durante a campanha presidencial, Pochmann foi um dos responsáveis pelo programa de governo de Lula, que acabou sendo substituído por Fernando Haddad. Em entrevista ao Estadão, à época, afirmou que a Previdência não precisava de uma reformulação geral, apenas ajustes pontuais. Também se disse favorável à revisão da reforma trabalhista, destacou que a Petrobras precisava ter “compromisso com o País” e defendeu uma lei para regulamentar os meios de comunicação.
Pochmann também defendeu que os ganhos de produtividade obtidos pelo mundo do trabalho já permitiam que a jornada dos trabalhadores pudesse ser de quatro horas por dia, em três dias por semana – o que ajudaria a resolver problemas sociais. “Há singularidade do trabalho hoje: os ganhos de produtividade foram muito significativos e há condições técnicas para reduzir a jornada, sem comprometer o desempenho”, afirmou.
“Os empresários podem argumentar que não há espaço para redução, assim como no início do século XX muitos não entendiam que a jornada de 14 horas por dia diminuía a produtividade e provocava uma série de doenças no trabalhador”, exemplificou.
Estadão